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Gotas ou chuva torrencial?


Por Luís Alexandre Aliboni

A chuva serôdia cairá sobre os que se submeterem sem reserva de domínio ao poder do espírito santo.
Jesus havia ressuscitado. Vazio estava o túmulo. Dois homens testemunharam dizendo: “Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos preveniu, estando ainda convosco na Galileia, quando disse: Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de pecadores, e seja crucificado, e ressuscite no terceiro dia” (Lc 24:5-7).
Mas nem todos os Seus seguidores presenciaram o glorioso momento. Dois deles estavam a caminho de Emaús, tristes, abatidos. Jesus Se aproximou deles, os quais não O reconheceram, e perguntou: “Que é isso que vos preocupa?” (Lc 24:17). Uma resposta um tanto irônica saiu dos lábios de Cleopas: “És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?” (Lc 24:18).


A crucifixão de Jesus foi um assunto importante, pois desencadeou eventos incomuns: sinais no céu, ressurreição de mortos, tremor de terra. Seria impossível alguém, em Jerusalém, estar desinformado a respeito daquele evento. Mas a causa da tristeza consistiu no fato de que já era o terceiro dia e aparentemente nada havia acontecido, mesmo com o testemunho das mulheres diante do túmulo vazio. Nesse contexto, Jesus Se deu a conhecer. A alegria voltou a pairar na vida dos discípulos de maneira extraordinária.

Cristo Se apresentou aos discípulos, relembrou-lhes por meio do Antigo Testamento o que estava escrito a Seu respeito e deu uma ordem explícita: “Eis que envio sobre vós a promessa de Meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49). De maneira mais explícita, Lucas apresenta, em seu segundo livro, a mesma ideia: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da Terra” (At 1:8). Por duas vezes, Lucas revelou o Espírito Santo como o poder de Deus, bem como a necessidade de o crente ser revestido por Ele.

Promessa do Consolador – Após a Ceia, Jesus Se dirigiu ao Jardim do Getsêmani, a fim de orar. Durante a caminhada, revelou aos discípulos que Ele devia morrer, mas essa morte não seria uma separação eterna entre Ele e Seus amigos. Seria temporária (Jo 14:1-3), pois prometera voltar. Essa mensagem devia ser proclamada ao mundo. Mas nunca seria proclamada se essa iniciativa dependesse da força e da vontade humanas. Por isso, Jesus apresentou o novo companheiro de jornada dos discípulos (e não apenas deles), que foi chamado de Consolador, Espírito da Verdade, Espírito Santo. Sua função seria diferente da função de Jesus.

O Espírito Santo viria para capacitar o ser humano a crer em Jesus. Deveria convencer o se humano de seu pecado, da necessidade de arrependimento e da proposta salvífica de Jesus. Provavelmente, os discípulos não tivessem entendido isso de imediato. Jesus morreu. Os discípulos ficaram com medo.
Mesmo após a ressurreição, dúvidas vieram à mente deles, pois o Mestre não havia restaurado o reino a Israel. Enfim, Jesus subiu ao Céu. Os discípulos voltaram para casa, onde desejaram estar preparados para receber a promessa do poder do alto. “Esses dias de preparo foram de profundo exame de coração. Os discípulos sentiram sua necessidade espiritual e suplicaram do Senhor a santa unção que os devia capacitar para o trabalho de salvar pessoas.”1

Grandes feitos – A partir do capítulo dois, o livro de Atos apresenta maravilhosos feitos dos discípulos: curas, pregações, conversões. Fala de três mil conversos num só dia e de cinco mil conversos. Depois, não fala mais em números: “Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:47). Pedro pregou com intrepidez e citou o livro de Joel como se cumprindo naquele momento. Ele disse: “O que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel” (At 2:16), o qual afirma que haveria uma demonstração maravilhosa do poder de Deus (2:23, 28-32).

O nome Joel provavelmente signifique “Yahweh é Deus”. Não se sabe muita coisa a respeito do autor, a não ser que ele é filho de Petuel. A evidência interna do livro não nos mostra nada a respeito da data de sua profecia, mas apresenta duas partes proféticas: a invasão de gafanhotos e a promessa da restauração por meio da graça divina.2
Ele recebeu a incumbência de chamar o povo de volta à adoração do Deus verdadeiro, à preocupação com o grande e terrível Dia do Senhor.3

O texto citado por Pedro no dia de Pentecostes está no capítulo dois de Joel.

Últimos dias – Pedro citou o derramamento do Espírito Santo em seus dias como sendo os últimos dias, mas Joel não usou a expressão “últimos dias”. O que Pedro pode estar sugerindo com esse acréscimo inspirado? Justo González afirma: “É dito que a profecia se refere aos ‘últimos dias’, à vinda do reino de Deus. Isso é de importância fundamental para o entendimento não só do discurso de Pedro, mas de todo o livro de Atos. O que aconteceu lá é que o reino de Deus é dinâmico. Estamos ‘nos últimos dias’, independentemente de quão longos esses últimos dias sejam. [...] O fato é que, com a morte e a ressurreição de Jesus e com o dom do Espírito Santo, o reino de Deus foi inaugurado. Agora, falta o cumprimento final, quando os ‘últimos dias’ terminarem.”4

Portanto, inspirado pelo Espírito Santo, Pedro afirmou que os últimos dias haviam se iniciado e que todos os ouvintes deveriam “arrepender-se e converter-se” (At 2:38). Era um chamado ao reavivamento e à reforma: o início do processo. Citando Joel, Pedro enfatizou que todos seriam capacitados para receber o poder do alto. No contexto de Atos, pode-se notar que a mensagem alcançou seu objetivo, pois “os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (At 2:41). Pedro citou a mesma palavra de Joel ao se referir ao poder do Espírito Santo: derramar. No contexto de Joel 2, o derramamento do Espírito Santo está associado ao derramamento de duas chuvas que ele chama de temporã e serôdia (Jl 2:23). Que chuvas seriam essas?

Duas chuvas –A palavra chuva em Joel é o termo hebraico geshem, que frequentemente denota um “banho violento”, indicando chuva torrencial.5
Joel cita dois geshem: temporã e serôdia. A primeira ocorria nos meses de março e abril, chamada de primeiras chuvas, que molhavam a terra para o plantio (semeadura). A segunda ocorria nos meses de outubro e novembro, chamada de últimas chuvas, sem as quais as safras não seriam produtivas.6
Embora Pedro tenha mencionado que os “últimos dias” estavam começando, o Pentecostes simbolizava a chuva temporã, a primeira e poderosa chuva, a grande manifestação do Espírito Santo, iniciando a obra da Igreja.7

Afirma Ellen White que “o derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o começo da primeira chuva – a temporã –, e glorioso foi o resultado.”8
Mas quando deveria ser derramada a chuva serôdia, para a colheita? De acordo com Joel, alguns eventos aconteceriam no período das chuvas: O Sol se converteria em trevas, a Lua em sangue, haveria prodígios no céu e na Terra (Jl 2:30-31).

O livro do Apocalipse (6:12-14) faz coro com o profeta Joel quanto aos sinais no céu e na terra e a história cita alguns eventos que estão de acordo com o que a profecia descreve. A pergunta é: Quando aconteceriam esses sinais? Uma poderosa evidência do livro de Joel diz que seria antes de se “invocar o nome do Senhor e receber a salvação” (Jl 2:32).

Salvação – Quando acontecerá a salvação? Estamos salvos ou seremos salvos? Como entender isso? 

Precisamos entender esse aspecto antes de voltarmos ao assunto da chuva serôdia. É fato que Jesus veio buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19:10) e que aquele que crê em Jesus “não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24). Nesse contexto, a salvação já aconteceu.
Mas, então, por que os pecadores que amam a Jesus continuam vivendo nesse mundo tenebroso? Porque Jesus foi preparar um lugar para Seus filhos e depois disso voltará. Nesse sentido, a salvação ainda não aconteceu, embora Seus filhos já estejam salvos. É um paradoxo real. O arrependido e convertido está salvo, mas a salvação ainda não se concretizou, pois Cristo ainda não retornou.De qual momento Joel estava falando? De estar salvo (pela justificação em Cristo no momento da aceitação) ou de ainda não estar salvo pelo fato de Cristo não ter voltado? A evidência do texto diz que a salvação ocorreria pela invocação do nome do Senhor após os prodígios no céu e na terra. Quais são esses sinais?

Sinais –Analisando Joel à luz do Apocalipse, entendemos que o grande sinal na Terra foi o terremoto de Lisboa, ocorrido no dia 1º de novembro de 1755. Há relatos de que o terror foi indescritível e que as pessoas corriam por toda parte exclamando: “Misericórdia! É o fim do mundo.”9
Depois deveriam vir os sinais no céu, a saber, no Sol e na Lua. Está relatado que “foi precisamente a 19 de maio de 1780 que ocorreu o sobrenatural escurecimento do Sol, apenas sete anos depois da cessação da perseguição contra os santos. As narrativas que chegaram até nós sobre o grande escurecimento são perfeitamente comprobatórias da profecia. O continente americano foi o primeiro a ser envolto pelas densas e estranhas trevas, pois que se manifestaram nos Estados Unidos, desde as dez e meia da manhã até ao pôr do sol”.10Sobre a Lua tornar-se em sangue é dito: “Foi também este o grande vaticínio do profeta Joel ao se referir à grande escuridão. Todos os entendidos sabem que a Lua é um satélite da Terra e que sua luz é a própria luz solar refletida. Na ocasião do escurecimento do Sol, a luz que este apresentava na ocasião era a única que a Lua podia refletir, a cor escura do sangue, o que mais uma vez confirma plenamente a cor do saco de cilício manifesta pelo sol.”11

Portanto, os sinais na Terra e no céu são datados a partir de 1755. Partindo desse princípio, pode-se entender que o contexto de salvação em Joel 2 não se refere à salvação por ocasião da aceitação da graça de Jesus (embora aquele que aceita a salvação na graça de Jesus passa a invocar Seu nome), mas a salvação oferecida pouco antes da vinda de Jesus.

Logo, a última e poderosa chuva, a serôdia, seria derramada antes da vinda de Jesus para que Seu povo pudesse invocar Seu nome e receber a salvação prometida. Ellen White escreveu: “Esta obra será semelhante à do dia de Pentecostes. Assim como a chuva temporã foi dada no derramamento do Espírito Santo no início do evangelho, para efetuar a germinação da preciosa semente, a chuva serôdia será dada em seu encerramento para o amadurecimento da seara. [...] A grande obra do evangelho não deverá terminar com menor manifestação do poder de Deus do que a que assinalou seu início. As profecias que se cumpriram no derramamento da chuva temporã no início do evangelho, devem novamente cumprir-se na chuva serôdia, no término desse.”12
Necessidade de poder – Se houve necessidade do poder do Espírito Santo no início da obra, também haverá a mesma necessidade no fim da obra da pregação do evangelho, após os sinais no céu e na Terra. Por que a igreja precisa da chuva serôdia para finalizar a obra e qual é a relação dessa chuva com o reavivamento e a reforma?

A respeito da necessidade da chuva serôdia, Ellen G. White diz: “A menos que se arrependa e se converta a igreja que agora está a levedar-se com sua apostasia, comerá do fruto de seus próprios atos, até que aborreça a si mesma. Quando resistir ao mal e escolher o bem, quando buscar a Deus com toda humildade e alcançar sua alta vocação em Cristo, permanecendo na plataforma da verdade eterna, e pela fé lançando mão dos dons que para ela se acham preparados, então será curada. Aparecerá então na simplicidade e pureza que Deus lhe deu, separada de embaraços terrenos, mostrando que a verdade com efeito a libertou. Então, seus membros serão na verdade os escolhidos de Deus, os Seus representantes.”13

Nesse contexto, percebemos que a igreja que deveria ser a luz do mundo e anunciar a salvação a todas as nações nem sequer tem a salvação para si. Essa situação pode e deve ser analisada a luz de Apocalipse 3:14-22, no último período profético da igreja, antes da vinda de Jesus: Laodiceia. O termo Laodiceia é uma união de dois termos gregos – laós,povo, e díkaios, justo, derivado de dikaiosúne, justiça.14 O nome Laodiceia simboliza o último período profético da igreja, antes da vinda de Jesus e antes de Ele fazer justiça aos moradores da Terra.

Da mornidão para o despertamento – Como está simbolizado o povo da igreja de Laodiceia? Morno, a ponto de ser vomitado da boca do Senhor, infeliz, miserável, pobre, cego, nu.
Em suma, uma verdadeira calamidade espiritual! Mas é nesse período que terminará a história da humanidade pecaminosa, com a vinda de Jesus. Como mudar esse quadro? Por meio do derramamento da chuva serôdia. Chegou o tempo para a realização de uma grande obra de reavivamento e reforma. “Quando essa reforma começar, o espírito de oração atuará em cada crente e banirá da igreja o espírito de discórdia e luta. Os que não têm estado a viver em comunhão cristã se aproximarão uns aos outros em união. Um membro que trabalhe de maneira devida levará outros membros a se unirem a eles em súplica pela revelação do Espírito Santo. Não haverá confusão, pois todos estarão em harmonia com o Espírito. As barreiras que separam um crente de outro serão derribadas e os servos de Deus falarão as mesmas coisas. O Senhor cooperará com Seus servos. Todos orarão com entendimento a prece que Cristo ensinou aos Seus servos: ‘Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu’ (Mt 6:10)”.15Entende-se, portanto que a situação atual da igreja está fora dos padrões descritos pela Palavra de Deus e que há uma necessidade de reforma urgente, a mesma reforma pela qual os discípulos passaram nos dias de Pentecostes. Naturalmente, a reforma está intimamente ligada ao reavivamento. Basta olhar para os discípulos mais uma vez. Nada puderam fazer antes da chuva temporã. Mas, depois, batizaram três mil, logo cinco mil e logo perderam a conta, sem mencionar os poderosos milagres e curas que realizavam. Ellen G. White escreveu: “Os servos de Deus, com o rosto iluminado e a resplandecer de santa consagração, se apressarão de um lugar para outro para proclamar a mensagem do Céu. Por milhares de vozes em toda a extensão da Terra, será dada a advertência. Serão realizados prodígios, os doentes serão curados, e sinais e maravilhas seguirão os crentes.”16
Isso vai acontecer quando a igreja experimentar a realidade de um poderoso reavivamento e completa reforma. Essa tarefa é urgente, pois “caso a cortina pudesse ser erguida, caso vocês pudessem discernir os propósitos de Deus e os juízos que estão para se abater sobre o mundo condenado, caso pudessem ver sua própria atitude, temeriam e temeriam por si mesmos e por seus semelhantes. 

Fervorosas orações e angústia de coração quebrantado se elevariam
ao Céu. Vocês chorariam entre o alpendre e o altar, confessando sua cegueira e rebeldia espirituais”.17

A conclusão a que chegamos está bem definidada nas palavras do apóstolo Paulo: “Digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a vossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”(Rm 13:11-14, NVI).

Luís Alexandre Aliboni é pastor do distrito de Lins, SP.

Referências

1. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 37.
2. Seventh-day Adventist Bible Commentary, v. 4, p. 937.
3. Warren W. Wiersbe, Comentário Bíblico Expositivo, v. 4, p. 414.
4. Justo L. González, Atos – O Evangelho do Espírito Santo, p. 60.
5. Seventh-day Adventist Bible Commentary, v. 4, p. 945.
6. Wiersbe, p. 418 (cf. Nichol, 945-946). Ambas as obras afirmam
que a chuva serôdia era para o momento da colheita.
7. Seventh-day Adventist Bible Commentary, v. 4, 945.
8. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 54, 55.
9. A. S. Mello, A Verdade Sobre as Profecias do Apocalipse, p. 165.
10. Ibid., p. 166-167.
11. Ibid., p. 168.
12. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 611, 612.
13. Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 254.
14. Pedro Apolinário, Grego, p. 325, 330.
15. J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia, p. 907, 908.
16. Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 254, 255.
17. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 612.
18. Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 15.